domingo, 1 de maio de 2011

Quinta e Palácio de Monserrate




Nossa Sra.de Monserrate 
Imagem do séc. XVII, em terracota.
  
Nos inícios do século XVI, os termos da serra de Sintra, correspondentes ao actual Parque de Monserrate, pertenciam ao Hospital de Todos os Santos de Lisboa.
Em 1540 o clérigo Gaspar Preto manda edificar uma ermida em honra de Nossa Senhora de Monserrat (originária da Catalunha) nesses termos e, no século XVII, estas propriedades são aforradas a um membro da família Mello e Castro.


Em 1718 a propriedade no seu todo, quinta e prédios, entram num vínculo de Dom Caetano de Mello e Castro – Comendador da Ordem de Cristo e 36º Vice-Rei da Índia (1702 - 1707), que vivia em Goa.
Entretanto, em 1755, os prédios da propriedade são bastante afectados pelo terramoto.
Mais tarde, em 1790, Dona Francisca Xavier Marianna de Mello e Castro (herdeira da propriedade), decide “arrendar utilmente a quinta” a Gerard DeVisme, um negociante inglês que tinha gosto pela agricultura. Neste processo de arrendamento, todos os custos e encargos da quinta ficavam a cargo do arrendatário.
Deste modo, a propriedade é arrendada durante nove anos a DeVisme e este manda erigir uma “casa castelo” – o palácio de Monserrate. Sobre esta construção, Lord Byron escreveu:



E eis no alto, ó Vathek, a mansão principesca
onde tu, o mais rico herdeiro de Inglaterra,
formaste o paraíso… [1]
Três anos mais tarde, DeVisme muda-se definitivamente para Monserrate. Lá pretendia repousar e apartar-se da agitação da sua vida de comerciante. Porém, decide regressar a Inglaterra, subarrendando a quinta a William Beckford, em 1974.
Em documentos de Dom Luiz de Castro, do ano de 1794, explicita-se que a quinta fora subarrendada a Beckford of Fonthill (que se encontrava instalado no Ramalhão, provavelmente desde 1787). William Beckford of Fonthill – herdeiro de uma das mais conceituadas famílias Britânicas – fora obrigado a vir para Portugal, exilado, visto que se encontrava envolvido num processo judicial em Inglaterra.
Beckford era um amante do estilo Árabe, e por este foi polémico em Inglaterra. Em Portugal associa-se ao seu gosto a construção de Monserrate, indo para lá habitar cerca de dez anos. Porém, ao ver todos os seus amigos portugueses falecerem[2], sentiu-se sozinho no seu “Beloved Portugal”, e perdeu o interesse pela quinta, deixando-a ao abandono.
Após a sua partida, o palácio entra em degradação. Este estado do palácio é-nos relatado por vários visitantes da Vila ao longo do século XIX, tais como Byron (chega a Portugal em 1809), que se impressiona bastante com o abandono do palácio, ou por Mariana Baillie (1871) – uma viajante inglesa que assiste à fase de ruína mais agravada da quinta.
Também uma repórter da revista Universo Pitoresco descreve Monserrate visto da estrada de Colares, explicando o principal motivo do seu estado de degradação:
  
     “[…] Pouco mais longe, eis Monserrate, elegante habitação acastelada, construída sobre um outeiro, que faz parte da Serra, no centro de uma floresta e com um ponto de vista admirável. […]”
    “[…] Não foi a mão devastadora do tempo que lhe abriu as primeiras fendas, mas sim o vandalismo, que arrebatando-lhe os seus telhados de chumbo, a deixou exposta às injúrias das estações. […]”[3]
 
  O texto de Célestine Brélaz é bem explícito quando relata o que sucedeu para que se desse o início da degradação do palácio. Os telhados de chumbo haviam sido vendidos após o contrato com o rendeiro João Rodrigues ter terminado, tendo a quinta ficado entregue a caseiros que deixaram o edifício entrar em ruína.

Monserrat
Desenho de Céléstine Brélaz. Litografia de Manuel Luiz (1840).

Porém, entre os anos de 1810 e 1850, vários estrangeiros tentaram adquirir a quinta com o objectivo de a recuperar, um deles foi Fernando Augusto Francisco António de Sachsen-Coburg-Gotha-Koháry (Dom Fernando II, Rei Consorte de Portugal), que pretendia ligara Quinta de Monserrate à Pena. Contudo, Dom Luiz de Castro – o proprietário da mesma –, preferiu mantê-la subarrendada, até que veio a falecer, permanecendo a quinta e palácio a degradarem-se progressivamente.

Nos séculos XVIII e XIX, a Quinta de Monserrate sofre, portanto, duas ruínas, sendo salva de ambas pelas mãos de dois milionários ingleses:
                     Gerard deVisme – 1790 a 1793 – estilo neo-gótico
              Francis Cook – 1856 a 1863 – estilo neo-mourisco
No ano de 1855, José Maria de Castro e Almeida Pimentel de Sequeira e Abreu, dono do vínculo de Monserrate, regressa da Índia com a sua família, vindo a falecer um ano mais tarde. Assim sendo, o seu filho Luiz Caetano, sucede-lhe como herdeiro. Porém, por ser menor de idade, a sua mãe – Veridiana Constança Leite de Souza e Noronha –, com autorização da família, realiza o contrato de sub-rogação da quinta a Francis Cook (capitalista e negociante inglês).
A venda da propriedade, há muito não habitada pela família, deveu-se à necessidade do dinheiro para construir uma casa para a família na Lapa, visto que a anterior havia sido destruída com o terramoto de 1755[4].
Esta venda finaliza-se entre os anos de 1860 e 1863, com o surgimento de uma legislação[5] que abolia os vínculos e os morgados. Após isto, Francis Cook inicia as obras de recuperação do palácio de Monserrate e a reestruturação dos jardins.










[1] Lord Byron. Byron encontrava-se exilado no Brasil para não ser destronado por Napoleão.
 
[2] Alguns dos amigos portugueses mais próximos de Beckford: D. Diogo José Vito de Meneses Noronha Coutinho (5º Marquês de Marialva e 7º Conde de Cantanhede - proprietário de Seteais) – falece em 1803; D. Henriqueta (Senhora da casa de São Pedro) – falece em 1810; D. Pedro José Joaquim Vito de Meneses Coutinho (6º Marquês de Marialva e 8º Conde de Cantanhede) – falece em 1823.

[3] Brélaz, Célestine, Universo Pitoresco, 1839/40


[4] Segundo o cónego Dom João Filipe de Castro
   
[5] Reforma dos Morgados ou Carta de Lei de 30 de Julho de 1860