Nossa Sra.de Monserrate Imagem do séc. XVII, em terracota. |
Nos inícios do século XVI, os termos da serra de Sintra, correspondentes ao actual Parque de Monserrate, pertenciam ao Hospital de Todos os Santos de Lisboa.
Em 1540 o clérigo Gaspar Preto manda edificar uma ermida em honra de Nossa Senhora de Monserrat (originária da Catalunha) nesses termos e, no século XVII, estas propriedades são aforradas a um membro da família Mello e Castro.
Em 1718 a propriedade no seu todo, quinta e prédios, entram num vínculo de Dom Caetano de Mello e Castro – Comendador da Ordem de Cristo e 36º Vice-Rei da Índia (1702 - 1707), que vivia em Goa.
Entretanto, em 1755, os prédios da propriedade são bastante afectados pelo terramoto.
Mais tarde, em 1790, Dona Francisca Xavier Marianna de Mello e Castro (herdeira da propriedade), decide “arrendar utilmente a quinta” a Gerard DeVisme, um negociante inglês que tinha gosto pela agricultura. Neste processo de arrendamento, todos os custos e encargos da quinta ficavam a cargo do arrendatário.
Deste modo, a propriedade é arrendada durante nove anos a DeVisme e este manda erigir uma “casa castelo” – o palácio de Monserrate. Sobre esta construção, Lord Byron escreveu:
E eis no alto, ó Vathek, a mansão principesca
onde tu, o mais rico herdeiro de Inglaterra,
formaste o paraíso… [1]
Três anos mais tarde, DeVisme muda-se definitivamente para Monserrate. Lá pretendia repousar e apartar-se da agitação da sua vida de comerciante. Porém, decide regressar a Inglaterra, subarrendando a quinta a William Beckford, em 1974.
Em documentos de Dom Luiz de Castro, do ano de 1794, explicita-se que a quinta fora subarrendada a Beckford of Fonthill (que se encontrava instalado no Ramalhão, provavelmente desde 1787). William Beckford of Fonthill – herdeiro de uma das mais conceituadas famílias Britânicas – fora obrigado a vir para Portugal, exilado, visto que se encontrava envolvido num processo judicial em Inglaterra.
Beckford era um amante do estilo Árabe, e por este foi polémico em Inglaterra. Em Portugal associa-se ao seu gosto a construção de Monserrate, indo para lá habitar cerca de dez anos. Porém, ao ver todos os seus amigos portugueses falecerem[2], sentiu-se sozinho no seu “Beloved Portugal”, e perdeu o interesse pela quinta, deixando-a ao abandono.
Após a sua partida, o palácio entra em degradação. Este estado do palácio é-nos relatado por vários visitantes da Vila ao longo do século XIX, tais como Byron (chega a Portugal em 1809), que se impressiona bastante com o abandono do palácio, ou por Mariana Baillie (1871) – uma viajante inglesa que assiste à fase de ruína mais agravada da quinta.
Também uma repórter da revista Universo Pitoresco descreve Monserrate visto da estrada de Colares, explicando o principal motivo do seu estado de degradação:
“[…] Pouco mais longe, eis Monserrate, elegante habitação acastelada, construída sobre um outeiro, que faz parte da Serra, no centro de uma floresta e com um ponto de vista admirável. […]”
“[…] Não foi a mão devastadora do tempo que lhe abriu as primeiras fendas, mas sim o vandalismo, que arrebatando-lhe os seus telhados de chumbo, a deixou exposta às injúrias das estações. […]”[3]
O texto de Célestine Brélaz é bem explícito quando relata o que sucedeu para que se desse o início da degradação do palácio. Os telhados de chumbo haviam sido vendidos após o contrato com o rendeiro João Rodrigues ter terminado, tendo a quinta ficado entregue a caseiros que deixaram o edifício entrar em ruína.
Monserrat Desenho de Céléstine Brélaz. Litografia de Manuel Luiz (1840). |
Porém, entre os anos de 1810 e 1850, vários estrangeiros tentaram adquirir a quinta com o objectivo de a recuperar, um deles foi Fernando Augusto Francisco António de Sachsen-Coburg-Gotha-Koháry (Dom Fernando II, Rei Consorte de Portugal), que pretendia ligara Quinta de Monserrate à Pena. Contudo, Dom Luiz de Castro – o proprietário da mesma –, preferiu mantê-la subarrendada, até que veio a falecer, permanecendo a quinta e palácio a degradarem-se progressivamente.
Nos séculos XVIII e XIX, a Quinta de Monserrate sofre, portanto, duas ruínas, sendo salva de ambas pelas mãos de dois milionários ingleses:
Gerard deVisme – 1790 a 1793 – estilo neo-gótico
Francis Cook – 1856 a 1863 – estilo neo-mourisco
No ano de 1855, José Maria de Castro e Almeida Pimentel de Sequeira e Abreu, dono do vínculo de Monserrate, regressa da Índia com a sua família, vindo a falecer um ano mais tarde. Assim sendo, o seu filho Luiz Caetano, sucede-lhe como herdeiro. Porém, por ser menor de idade, a sua mãe – Veridiana Constança Leite de Souza e Noronha –, com autorização da família, realiza o contrato de sub-rogação da quinta a Francis Cook (capitalista e negociante inglês).
A venda da propriedade, há muito não habitada pela família, deveu-se à necessidade do dinheiro para construir uma casa para a família na Lapa, visto que a anterior havia sido destruída com o terramoto de 1755[4].
Esta venda finaliza-se entre os anos de 1860 e 1863, com o surgimento de uma legislação[5] que abolia os vínculos e os morgados. Após isto, Francis Cook inicia as obras de recuperação do palácio de Monserrate e a reestruturação dos jardins.
[2] Alguns dos amigos portugueses mais próximos de Beckford: D. Diogo José Vito de Meneses Noronha Coutinho (5º Marquês de Marialva e 7º Conde de Cantanhede - proprietário de Seteais) – falece em 1803; D. Henriqueta (Senhora da casa de São Pedro) – falece em 1810; D. Pedro José Joaquim Vito de Meneses Coutinho (6º Marquês de Marialva e 8º Conde de Cantanhede) – falece em 1823.
[3] Brélaz, Célestine, Universo Pitoresco, 1839/40
[5] Reforma dos Morgados ou Carta de Lei de 30 de Julho de 1860